“Administrar a vaidade dos dirigentes e criar mecanismos de trabalho para alcançar os objetivos traçados pela Direção”.
O futebol no Brasil nasceu nos clubes centenários formados por grupo de pessoas apaixonadas pela cor da camisa, pelo símbolo e enfim, pela instituição. Esta regra foi seguida desde os primeiros confrontos oficiais até 1998 quando surgiu a Lei 9.615 que trouxe em seu texto uma forma mais empresarial de gerir o esporte nacional. Muitos conflitos foram criados o que fez com que a nova regra exigisse três anos para ser validada. Aqueles clubes que mantinham quadro associativo em conjunto com o futebol profissional levaram vantagem até então, pois conseguiam receitas superiores aos clubes exclusivamente de futebol e possuíam vida financeira mais estável. Nesse período, o clube e o time de futebol, eram administrados por dirigentes que, por regra de seus Estatutos não eram remunerados. Com o advento das transmissões televisivas os clubes de futebol tornaram-se autossuficientes em receitas e surgiu também a necessidade do dirigente profissional.
Ocorre que nem todos os clubes se adaptaram à nova legislação. A maioria deles ainda mantém uma administração através de dirigentes estatutários e outros conseguiram iniciar um processo de transição incluindo os recém-chegados especialistas profissionais. O primeiro grande passo que precisa ser dado é o estabelecimento do limite de atuação de um e de outro. Aos especialistas profissionais caberá a responsabilidade de através de suas ações gerarem uma relação de extrema confiança com o dirigente estatutário e para isso deverão estar, ambos, devidamente preparados. Alguns pré-requisitos são necessários ao profissional que desenvolverá essa função como o conhecimento do cotidiano do clube e a capacidade de administrar as vaidades que orbitam no mundo do futebol. Nenhuma outra atividade evidencia mais uma pessoa que o futebol. As noticias são diárias e a exposição é enorme. Navegar “nessas águas” é extremamente delicado e perigoso. Além disso, a função ainda exige comportamento distinto perante a torcida e as redes sociais. Ao dirigente estatutário será exigida adaptação ao novo quadro. Aqueles que conseguirem entender a nova estrutura conviverão harmoniosamente com o profissional. Já os que não conseguirem essa adaptação atrapalharão em muito os objetivos do clube de futebol.
Ao profissional, além de uma vivencia mínima de dois anos no ambiente futebolístico, uma formação universitária com uma especialização na área esportiva seria ideal. Conhecimento da língua inglesa, noções de informática, conhecimento da legislação esportiva e da Consolidação das Leis do Trabalho completam o perfil desejado e necessário para enfrentar o desafio de traduzir as intenções da direção do clube em resultado do departamento de futebol.
Em resumo, o especialista terá a missão de administrar a vaidade dos dirigentes e, ao mesmo tempo, criar mecanismos de trabalho para alcançar os objetivos traçados pela Direção do Clube.
Somos o país do futebol e possuímos pessoas atualizadas e ansiosas por conhecimento. Com certeza enfrentaremos essas mudanças com naturalidade e sabedoria e conseguiremos implantar o profissionalismo na paixão nacional.
Ocimar Batista Bolicenho é Executivo de Futebol da Associação Atlética Ponte Preta e Presidente da Associação Brasileira dos Executivos de Futebol.