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Cícero Souza: “A transição das categorias de base para o profissional”



Hoje, escolho um tema que a maioria dos clubes brasileiros insiste em deixar ao acaso, e não é por acaso que diversas jovens promessas com comprovada qualidade técnica não conseguem recriar nos times profissionais todo o potencial já demonstrado nas divisões inferiores.

Fazer a transição das categorias de base para a equipe profissional é uma tarefa árdua e que exige um planejamento muito complexo, pois quanto menos distantes forem estes dois caminhos, com mais naturalidade o processo será cumprido.

Primeiramente sugiro que a administração de todas as etapas sejam feitas por um mesmo processo, para evitarmos aquela eterna construção de um muro entre as categorias de base e o profissional.  Veja bem, o que sugiro não são regalias típicas do atleta já formado para os meninos ainda em laboratório e simplesmente que uma mesma gestão se qualifique para gerir o processo e o faça com um planejamento único.

Já na captação devemos considerar as características de jogo da região e do clube em questão. Devemos considerar o histórico e a tradição cultural de cada equipe.

Quanto ao modelo de jogo da formação, sugiro que cada clube desenvolva o seu próprio estilo de jogar e que se imponha mediante as comissões técnicas. No futebol brasileiro, ainda carente de managers creio que a recriação na equipe Junior ( ou sub 23 quando ela existir ) do modelo de jogo da equipe profissional seja um passo muito grande para evitar distâncias técnicas e táticas quilométricas entre os departamentos.

Na fisiologia e na preparação física, índices e valências prioritárias devem ser coordenadas cientificamente e todos os dados armazenados em um único banco de dados do clube. Os testes devem visar uma evolução gradativa das mais diversas valências físicas e na categoria júnior os níveis exigidos já devem ser os mesmos solicitados aos atletas da categoria principal. Este procedimento visa inibir qualquer tipo de lesão que possa ser ocasionada pela adaptação a uma nova carga e volume de trabalho, aliás a esta altura nada será considerado novo para estes atletas em transição.

Na parte nutricional, o banco de dados também deve ser padronizado. Todo um histórico já cadastrado deve ser considerado. A suplementação alimentar se coordenada por uma mesma responsável ( base e profissional ) será muito mais otimizada e evitará desperdícios financeiros inadmissíveis nos dias de hoje.

Também a parte médica deve ser padronizada. Um único coordenador médico terá uma condição bem mais apta de entender as reações clínicas e as fadigas musculares destes atletas. O uso na máquina isocinética já deve estar completamente assimilado a esta altura, tanto na configuração de testes, quanto no treinamento propriamente dito.

A parte logística também precisa ter um padrão. Regras de caixinha precisam ser recriadas o mais cedo o possível. Projetos de viagens, convocações, programações de concentrações já devem ser padronizadas pelos clubes para que este atleta desde cedo compreenda a essência do profissionalismo.

Na análise de desempenho, também acho importante um direcionamento ainda bem cedo para a formação do atleta. Claro que este segmento apenas engatinha em nosso futebol, mas quanto mais cedo fizermos os nossos jovens atletas serem estimulados a usufruírem da tecnologia e do banco de dados para se corrigirem e buscar informações preparatórias para as partidas, melhor.

Precisamos valorizar de forma padrão também a área psicológica e a área social dos atletas. Tanto na base ( distância dos familiares ) quanto na equipe principal ( pressão pelo resultado ), os atletas precisam ser acompanhados e assistidos por um trabalho extremamente qualificado e que vise apurar as tendências de possíveis problemas para agir antes mesmo que eles possam acontecer.

A convivência dos atletas profissionais com os jovens também tem que ser estimulada. Palestras de atletas do grupo principal para as jovens promessas podem ocorrer periodicamente para enfatizar assuntos relevantes tais como treinamento, alimentação, educação escolar e atenção com as falsas amizades.

Coletivos entre a equipe principal ou reserva contra as categorias Junior e juvenil ( ora equipe titular, ora equipe reserva ) possibilitam uma visão mais abrangente de todo o contingente de atletas do clube, além de já darem uma noção mais próxima da resposta técnica de cada um.

Períodos de adaptação de 10 dias de treinamentos destes jovens junto ao time principal podem ser instituídos para servirem de última etapa antes da transição definitiva, pois servirão de integração junto ao novo grupo e tirarão a carga da pressão da subida por necessidade ou mal planejada.

E é evidente que uma proteção jurídica deva ser alicerçada pelas equipes. Na transição só devemos promover a oportunidade para aqueles em que estamos devidamente resguardados por bons contratos e com multas rescisórias compatíveis com o investimento. Neste quesito o gerenciamento único é fundamental para o sucesso da transição.

Bom, a tarefa é assim mesmo: extremamente complexa. Espero ter levantado questões importantes e contribuído com um pouco de experiência em trabalhos já desenvolvidos desta forma global e com um único modelo de gestão.